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PSAPLAST: «É difícil criar novos produtos e encontrar os canais comerciais para os escoar»

26 Janeiro 2023

Há, entre os produtores de plásticos, uma maior predisposição para arriscar na criação e fabrico dos seus próprios produtos. Até porque, dessa forma, ‘libertam-se’ de algumas imposições dos clientes que são, por vezes, difíceis de alcançar. Miguel Ritto, da PSAPlast, dá conta dessa opção que é, desde há muito, o percurso da sua empresa. Mas deixa uma advertência: a aposta na criação própria implica investimento, seja em design, desenvolvimento, moldes e até eventuais linhas de montagem. Por isso, aconselha as empresas a ponderarem antes de avançar. Até porque é difícil prever o sucesso comercial que o produto possa, ou não, vir a ter.


Criada em 1955, a empresa Plásticos Santo António tem mantido uma aposta centrada na produção de produtos próprios. Estes constituem a maior parte da sua produção. O seu gerente, Miguel Ritto, considera que, na indústria de plásticos, há dois tipos de atividade a caracterizar as empresas: “é comum umas dedicarem-se à produção de componentes concebidos e comercializados por clientes, e outras conceberem e comercializarem os seus próprios produtos”.


No primeiro grupo, conta, “até há cerca de 30 anos, no nosso país encontrávamos sobretudo peças para eletrodomésticos, mas depois com a transferência das linhas de montagem dos clientes para a Ásia, foram os componentes para a indústria automóvel que vieram a constituir o principal mercado para as peças fabricadas para clientes”. No entanto, “o enorme poder negocial destes, os prazos extremamente longos para pagarem os investimentos em moldes, e políticas de compras impondo ganhos de produtividade e reduções de preço contínuas, podem levar algumas empresas a presumir que seria preferível conceberem e comercializarem os seus próprios produtos”, considera. Mas deixa uma advertência: “antes de se lançarem nesse caminho, (as empresas) deveriam verificar quais os problemas sentidos por outras que desenvolvem os seus próprios produtos”.


É que, reforça, “são confrontadas com a necessidade de ter que investir no design, desenvolvimento, moldes, e eventuais linhas de montagem sem terem a possibilidade de prever o sucesso comercial que o produto vai ter”. Ou seja, “se imaginarem que vão vender uma grande quantidade, o custo a considerar para amortizar os investimentos será reduzido, conduzindo a um preço final mais baixo, mas se, depois, as vendas forem inferiores, não será possível amortizar o investimento e o projeto irá dar prejuízo”. Por isso, no seu entender, “há uma grande incerteza quando se desenvolvem produtos próprios, pois não sabemos a aceitação que um produto terá no mercado, e nalguns casos nem sequer dominamos os canais de venda para um determinado sector”.



APOSTA CONSCIENTE

Apesar dos riscos elencados, dá conta de que a Plásticos Santo António aposta, desde há muito, na criação e comercialização de produtos próprios. A empresa dedica-se à produção de embalagens retornáveis (para logística, etc.), embalagens invioláveis e soluções para a recolha seletiva de resíduos.


“A produção para clientes representa menos de 10 % da faturação, e, por opção da empresa, esta só tem estado recetiva a fabricar produtos de clientes que se enquadrem nas gamas dos artigos próprios”, explica. Isto, no seu entender, “permite benefício mútuo: a empresa acorda com o cliente o pagamento de royalties para usar os moldes e fornecer peças para mercados não dominados pelo cliente, e assim contribui para o cliente amortizar mais rapidamente os seus moldes”.


Ao longo dos anos, relata, a conceção dos produtos foi evoluindo com as tecnologias disponíveis.


E recorda um episódio que remete para os primórdios da atividade da própria indústria: “nos anos 50, Maria Augusta Ritto, fundadora da empresa, ia com o marido, Vasco Ritto, ao final do dia, à empresa Edilásio ver o progresso dos moldes em construção. Maria Augusta modelava o que queria em plasticina, e o mestre Julião ia esculpindo o molde à punceta, tirando-se amostras em plasticina e o processo ia avançando dessa forma”.


Já nos anos 80, conta, “o produtor de polietileno, em Sines, escolheu os Plásticos Santo António como parceiro para desenvolver uma linha completa de baldes para pintura e produtos alimentares, e contrataram uma designer”. No final dos anos 80 e início dos 90, a empresa optou por contratar a designer Salette Brandão, com formação em Inglaterra e na altura professora de Design Industrial na Faculdade de Arquitetura. Estes exemplos, salienta, servem para ilustrar aquilo que tem sido a prática da empresa: “sempre contou com a colaboração de fabricantes de moldes para otimizar a conceção dos produtos”.



DIFICULDADES

De igual forma, era frequente os desenhos finais de artigo serem efetuados pelo fabricante do molde. “Consoante o caso, parte-se de um desenho em perspetiva isométrica (feito sobre papel desenvolvido para o efeito e acessível no site da empresa), um desenho 2D em CAD, um desenho 3D, ou um protótipo (frequentemente com técnicas mistas, como impressão 3D, corte por jato de água de secções planas, soldadora, etc.).


A partir do final da década de 90 e ao longo dos últimos 20 anos, salienta, “a empresa passou a acolher estagiários de Design Industrial, e de Engenharia Mecânica, para colaborarem na conceção de produtos”. Mas, enfatiza, “os produtos da empresa são relativamente simples, sendo o mais complexo constituído por 10 componentes diferentes”, defendendo que “há uma grande diferença entre conceber um produto constituído por uma ou mais peças em plástico, e um que inclua componentes noutros materiais que correspondem a tecnologias que não se dominam”.


No seu entender, “é difícil criar novos produtos, e também é difícil encontrar os canais comerciais para os escoar”. A tentativa de ter um produto próprio, salienta, “encontra-se, por vezes, em empresas que têm uma ou mais máquinas para ensaio de moldes, e constroem um molde para fabricar algo como buchas para colocar parafusos nas paredes”.


Miguel Ritto reforça ainda que “é frequente (estas empresas) não terem disponibilidade para procurar mercados, e, além disso, trata-se de um produto com muita concorrência, pelo que acabam por ter de vender a um preço muito barato, e as quantidades vendidas são pequenas”. Desta forma, adverte, “nunca amortizarão o investimento no molde, e provavelmente o baixo preço não contribuirá com nenhum valor para amortizar a máquina.