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O uso do aço no fabrico de moldes remonta aos primórdios desta indústria. Foi neste material que recaiu a escolha, devido às suas propriedades de resistência, durabilidade e capacidade de suportar condições extremas. Seria de esperar que a decisão sobre a escolha do tipo de aço fosse feita por quem produz o molde. Contudo, de acordo com os fabricantes, na esmagadora maioria dos casos, a escolha é feita pelo cliente, logo na fase de negociação. Desta forma, consideram, as empresas de moldes têm um papel pouco interventivo - defendendo que este devia ter mais peso – sobre uma matéria-prima que é, afinal, primordial para a qualidade do molde.
É uma questão que reúne a quase unanimidade entre os fabricantes de moldes: só raramente é confiada a quem produz o molde, a decisão sobre o tipo de aço a utilizar.
Vítor Cardoso, da VL Moldes, é um dos exemplos. Conta que essa decisão do cliente acontece na maioria das negociações do molde. Contudo, acrescenta, no seu caso e para o modelo de moldes que fabrica, o tipo de aço utilizado acaba por não ter grande variabilidade. “De uma maneira geral, quando se trabalha quase exclusivamente para uma indústria – no nosso caso, a automóvel – a escolha incide praticamente nos mesmos tipos de aço na maior parte dos moldes produzidos”, afirma.
O papel do fabricante do molde, adianta, passa por “genericamente, aconselhar o tipo de aço que, na sua opinião, será o mais apropriado. Mas a decisão fica sempre nas mãos do cliente que, na maioria das vezes, já tem definido o tipo de aço a utilizar, exigindo ao fabricante a utilização dos materiais indicados nos cadernos de encargo, previamente estipulados nos pedidos de orçamentação.
Vítor Cardoso é perentório em considerar que, atualmente, “a oferta de aços é bastante variada, com ligas diferentes para cada tipo de molde e para cada tipo de polímero a injetar”.
No caso da VL Moldes, os moldes fabricados são “muito técnicos com cadências de produção muito elevadas”. O aço, diz, “tem de ser de boa qualidade para assegurar a durabilidade da produção, com alta resistência à corrosão, boas condutibilidades térmicas, resistência extremamente alta ao desgaste, alta tenacidade, boa resistência a vibrações e impactos mecânicos, baixa instabilidade dimensional”.
A indústria de moldes vai acompanhando o desenvolvimento dos aços e está bem informada acerca das suas inovações. Isso é garantido pelos fornecedores dos aços que, conta, asseguram formação com bastante regularidade. “Esta é uma questão fundamental para irmos conhecendo novas ligas e novos produtos”, conta, exemplificando que, recentemente, técnicos da sua empresa receberam formação na Áustria, num fornecedor conceituado de produção de aços especiais. “É verdade que conhecemos bem as características dos aços, mas a palavra final sobre a escolha é sempre do cliente”, enfatiza.
E, apesar dessa escolha residir, com frequência, em “aços mais comuns e correntes”, isso não significa que não tenham qualidade. “Temos de respeitar as normas ISO exigidas pelo cliente e usar aços certificados. Não podemos – nem queremos - descurar a qualidade”, adianta, contando que no processo, muitas vezes, o cliente escolhe, até, a marca e fornecedor do aço que pretende para o seu molde.
Uma das dificuldades que diz sentir, por vezes, prende-se com a disponibilidade dos aços especiais que necessita. Nem sempre, explica, determinados tipos de ligas especiais estão disponíveis em quantidade para responder às necessidades. E, em grande parte dos moldes, é esse o aço que os clientes preferem.
AMBIENTE
No seu entender, uma das questões que deveria ser revista diz respeito ao preço do aço que, no caso dos moldes, “representa, consoante os casos, entre 15 a 30 % da matéria-prima usada”.
“Tem de haver um esforço grande para que os preços baixem porque, cada vez mais, é difícil fazer passar esse custo para o cliente. O fabricante tem de reduzir as suas margens, mas estas já estão muito esmagadas”, defende. “Nestes últimos anos, esse preço disparou devido à inflação, ao valor das matérias-primas e aos custos da energia. E se falarmos de aços especiais, os valores são sempre mais altos”, acrescenta.
E se no que diz respeito às ligas especiais, o sector conhece-as e aplica-as sempre que vê vantagens nisso (e se tem a anuência do cliente), o mesmo não acontece, por exemplo, no designado ‘aço verde’. Até porque, acentua, este é um tema sobre o qual há ainda grande indefinição, apesar da premência que a indústria tem em torno da necessidade de apostar num tipo de produção mais protetora do ambiente.
“Fala-se bastante no aço verde. Mas na prática creio que não se percebeu ainda como será esse processo. Imagino que esteja dependente do tipo de energia utilizada no fabrico do aço e não tanto no processo propriamente dito”, considera. Por enquanto, conta, nenhum dos seus clientes o questionou sobre isso. No entanto, não tem dúvidas de que “quando houver uma solução para tornar o aço verde, a indústria automóvel, que dá tanta importância à questão da sustentabilidade, lhe dará prioridade. Por isso, esse tipo de aço terá valor acrescentado”.
O desafio que o sector enfrenta neste momento é, na sua opinião, a dimensão: “O problema dos fabricantes de moldes em Portugal é serem, na sua esmagadora maioria, empresas pequenas. Falta-nos escala para ter capacidade negocial. Se conseguíssemos juntar-nos para comprar, em conjunto, as matérias-primas e tivéssemos dimensão – garantida, por exemplo, com as empresas a associarem-se – conseguiríamos impor algumas alterações. Os aços poderiam ser uma dessas questões”, considera.