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Entrevista

Eduardo Catroga: «Acredito que a atual geração de empresários e gestores estará à altura das anteriores e que continuará a saber vencer os desafios»

02 Janeiro 2023

É um copo “meio cheio” o que Eduardo Catroga vê quando olha para o ano de 2023. Para o economista, gestor e antigo Ministro das Finanças, apesar do ‘arrefecimento’ que se prevê na economia europeia, haverá oportunidades para as empresas portuguesas, em particular as da indústria de moldes. Mas estas, defende, têm de otimizar os seus recursos e apostar na inovação.


O que podem as empresas da indústria de moldes esperar para 2023?

Num cenário macro, face a 2022 - que foi o último ano da recuperação pós-covid - vai haver um arrefecimento geral das economias. Estas, a nível da zona euro vão crescer, em média entre 0,5 e 1 %. E a economia portuguesa também terá um crescimento, na ordem de 1,3 %. Isto significa que as economias dos principais mercados da indústria de moldes - Alemanha, Espanha e França - também vão crescer pouco. A Alemanha poderá ser, até, a que vai crescer menos, atendendo ao grande impacto do preço do gás e da sua escassez na indústria alemã. Por isso, as empresas têm de esperar um arrefecimento geral dos mercados e com reflexos na sua carteira de encomendas.



Face a isto, o que podem as empresas fazer?

É altura de as empresas refletirem como podem intensificar o processo de otimização de custos - quer de matérias-primas, quer de energia -, mas também ver como podem intensificar esforços de diversificação de mercados. Há alguns mercados que vão recuperar mais depressa do que outros. Por exemplo, o caso americano: quando aparece uma crise, recupera mais rapidamente porque tem maior flexibilidade do que os mercados europeus. E convém lembrar que o mercado americano, a nível sectorial, só representa 3 % do total das vendas, por isso há potencial para crescer e pode representar muito mais. Mas há outros países que também representam oportunidades e há outros segmentos que podem ser serviços para a indústria de moldes.


Já há alguma penetração no mercado das indústrias dos dispositivos médicos ou aeronáutica. Ou seja, é preciso estar atento porque há sectores que vão crescer para além do que se espera. Portanto, as empresas têm de ‘pedalar’, ou seja, têm de continuar as suas políticas de intensificação de melhorias de eficiência e produtividade, penetração em novos mercados, inovação, diferenciação de produtos, processos e serviços.



E as empresas conseguirão fazer sozinhas essas mudanças, necessárias para vencer os desafios?

As empresas têm de ter isto presente: não podem esperar muito dos governos. Têm de lutar pela demonstração da sua viabilidade económica, a curto, médio e longo prazo, junto do sistema bancário. Não há apoios orçamentais para a tesouraria das empresas e nem é suposto haver. As empresas têm de lutar para serem mais eficientes e mostrarem à banca e ao sistema bancário que pode continuar a apostar nelas. Mas têm oportunidade, no domínio do investimento, de fazer maiores pressões junto das organizações empresariais para que essas, por seu turno, façam pressão junto do poder político. Sobretudo numa questão: para que parte dos subsídios europeus à economia portuguesa – o resto do PT2020, o PRR e, sobretudo agora o PT2030 -, seja reorientada para investimento nas empresas. Isto é prioritário, no ponto de vista da modernização de muitas empresas para fazerem a sua transição energética, digital, para aumentarem a sua capacidade de inovação e de penetração em novos segmentos e em novos mercados. Portanto, aí é que vejo que as empresas têm de pressionar e têm de ter projetos de qualidade para aumentarem a sua rentabilidade e o seu valor acrescentado nacional.



Como é que as empresas conseguirão manter a força e o otimismo neste cenário?

Em primeiro lugar, têm de acreditar: em si próprias enquanto empresas, nas capacidades de administração e gestão e, sobretudo, na ambição que é concretizada numa visão estratégica e em planos a curto, médio e longo prazo. É preciso acreditarem que têm capacidade executiva de ‘fazer acontecer’. Ou seja, executar as ações necessárias, estratégicas e operacionais para alcançar o objetivo. Acreditar no sector, nas suas capacidades, nas suas competências, e manter uma aposta forte no desenvolvimento da eficiência, da rentabilidade e da sua penetração nos mercados. Esse é o grande desafio. E a este junta-se outro: integrar cada vez mais colaboradores profissionais, competentes, no sentido de transformar esta ambição em realidade. Têm de ser os empresários e gestores a resolver os problemas das empresas.



Por aquilo que conhece da indústria de moldes, as empresas vão ser capazes de fazer isto?

A indústria tem uma história com mais de 70 anos e já passou por várias crises e por vários desafios. Cada crise gera oportunidades e gera desafios. E esta indústria tem sabido sempre encontrar novo segmentos de mercado, novas medidas para aumentar a sua eficiência, a sua capacidade de inovação de transformação tecnológica. Acredito que a atual geração de empresários e gestores estará à altura das anteriores e que continuará a saber vencer os desafios. Até porque esta é uma indústria essencialmente exportadora e muito importante no tecido produtivo português.