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O United Nations (UN) Global Compact é uma iniciativa lançada em 2000 pelo então Secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que tem como objetivo mobilizar empresas a criar um mundo mais sustentável. Diretora executiva da estrutura em Portugal, desde 2018, Anabela Vaz Ribeiro defende que, no caminho da sustentabilidade, as empresas devem “repensar o seu modelo de negócio, a partir dos dados de contexto e dos Planos de Ação Globais”, e também “conhecer as tendências, as expectativas dos mercados e das pessoas”.
Como podemos definir o tema ‘Sustentabilidade’ em empresas industriais? O que vai influenciar e impactar nos seus negócios?
Sustentabilidade tem a mesma definição para qualquer tipo de empresa. Sustentabilidade, definida pelo UN Global Compact, começa com o sistema de valores da empresa e uma abordagem assente em princípios no desenvolvimento do negócio. Significa operar, de forma que, no mínimo, sejam assumidas as responsabilidades nas áreas dos Direitos Humanos, Trabalho Digno, Proteção Ambiental e Anticorrupção. Os negócios responsáveis atuam de acordo com os mesmos valores e princípios independentemente da geografia em que a empresa opera, tendo a consciência de que as boas práticas numa área não compensam por práticas inadequadas noutra.
Ao incorporar os Dez Princípios do UN Global Compact nas estratégias, políticas e procedimentos, e estabelecer uma cultura de integridade, as empresas não estão apenas a assumir as suas responsabilidades para com as pessoas e o planeta, mas estão também a estabelecer as bases para o sucesso a longo prazo da própria organização.
O que devemos entender por ‘empresas sustentáveis’? É uma questão ambiental ou vai muito para além disso?
Uma empresa sustentável (ou responsável) é aquela que realiza a sua atividade de forma íntegra, respeitando as pessoas e o planeta. A pressão ambiental é a mais visível, sem dúvida, mas ambicionar ser sustentável implica muitas outras áreas, desde logo cuidar das questões sociais internas e na comunidade. Os Direitos Humanos fundamentais são ameaçados todos os dias e também cabe às empresas cuidar desses aspetos. Gerir os fornecedores de forma responsável, olhar para as comunidades e a cadeia de valor, inovar. Se não cuidarmos das pessoas, não haverá clientes no futuro.
É extremamente vantajoso para as empresas que alinhem a sua atividade com os dois grandes planos de ação globais: Agenda 2030 das Nações Unidas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e com o Acordo de Paris. Ignorar este contexto vai traduzir-se em dificuldades em ultrapassar desafios e em perda de oportunidades. Ambos os planos trazem uma nova visão para o mundo, um conjunto de oportunidades de inovação, resposta a novas necessidades, são requeridas novas competências, entre outros aspetos. Um novo mundo no qual sabemos que onde há oportunidades, há negócios.
É possível uma empresa ser competitiva não sendo sustentável? Porquê?
Os negócios evoluíram e a forma como fazemos negócios alterou-se profundamente. A sustentabilidade deixou de ser uma opção para ser uma necessidade competitiva das empresas. Constitui um driver fundamental de eficiência operacional e inovação.
O estudo anual do UN Global Compact diz-nos que os CEO de empresas com mais de USD 1000 Milhões de Dólares de receitas anuais acreditam que a sustentabilidade será importante para o sucesso futuro dos seus negócios. Porquê? Porque apoia o crescimento da marca, as expectativas dos clientes e dos consumidores e os requisitos dos mercados, que começam a estar alinhados com a sustentabilidade, incrementa as receitas, permite mitigar riscos e reduzir custos pela eficiência dos processos operacionais e pela redução do uso de recursos.
A transição para um modelo de desenvolvimento que considera a sustentabilidade dos recursos (ou seja, não utilizar mais do que a natureza tem capacidade para regenerar) coloca limites às empresas que não são sustentáveis. Enfrentarão primeiro uma redução de atividade e se não se adaptarem, a extinção.
Como podem as empresas fazer a transição para um negócio mais sustentável?
Repensar o seu modelo de negócio, a partir dos dados de contexto e dos Planos de Ação Globais. Conhecer as tendências, as expectativas dos mercados e das pessoas. Desde cedo que o UN Global Compact tem obrigatoriedades de relato anual para as empresas. É uma forma de orientar a sua ação e de lhes transmitir os temas a abordar. Como a empresa é gerida, como é constituída a força de trabalho e os órgãos de governação, que princípios segue, qual é o seu referencial ético? Como utiliza os recursos naturais? Como é a eficiência dos seus processos, que mecanismos de melhoria utiliza? Como gere as pessoas? Que compromissos assume com os Direitos Humanos fundamentais? Que políticas e procedimentos utiliza para gerir as suas pessoas?
Quais as prioridades e as metas (a nível de calendário) a ter em conta neste percurso que se impõe às empresas?
É difícil abordar todos os temas e não se espera isso das empresas. Potencialmente, as empresas abordam o que as afeta mais e neste momento diria que é o compromisso da Europa e do país com a neutralidade carbónica. Esta questão afeta o investimento e a capacidade de aceder a financiamento, por parte das empresas no sistema financeiro. Não significa que as empresas não consigam aceder a financiamento, significa apenas que o valor pode não ser competitivo. É uma pressão adicional.
Que mecanismos de suporte estão disponíveis para auxiliar as empresas a fazer esta mudança?
As instituições públicas estão a colocar requisitos no acesso ao financiamento sobre estas matérias, mas ainda escasseiam os mecanismos de apoio para ajudar as empresas nessa transição. Da nossa parte, internacionalmente e em Portugal, dispomos de uma Academia com mais de 300 cursos de formação nestas áreas que permite a todos/as os/as trabalhadores/as das empresas a sua frequência gratuita. Da mesma forma, com o objetivo de ajudar as empresas nesse caminho, temos vindo a desenvolver Programas Aceleradores no âmbito do UN Global Compact Network Portugal, desde a abordagem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aos Direitos Humanos Fundamentais, Ação Climática e Igualdade de Género. A rede portuguesa do UN Global Compact, com o intuito de apelar à mobilização e à tomada de ações concretas por parte dos líderes empresariais e responsáveis máximos de organizações não empresariais, tem vindo a levar a cabo Calls to Action com objetivos e timelines concretas, de que são exemplo a Plataforma Portuguesa para a Integridade e a Meta Nacional para a Igualdade de Género.
O UN Global Compact a nível global e a rede portuguesa em particular possuem também um conjunto de recursos, manuais e plataformas que permitem capacitar as empresas nos domínios do Desenvolvimento Sustentável. O calendário de eventos anual acaba por servir como alavanca para a sensibilização do tecido empresarial em geral.
As empresas queixam-se de dificuldades em encontrar pessoas com formação específica para apoiar nesta questão. As escolas têm um papel importante a desempenhar? E estão a fazer esse caminho ou é necessário reforçar essa aposta?
As escolas estão a desenvolver diversas iniciativas para dar resposta a esta questão. Há no mercado alguma oferta, embora ainda se estejam a dar os primeiros passos. A sustentabilidade tornou-se um tema complexo com diversas vicissitudes que precisam de aprofundamento e hands on nas empresas. A investigação é insuficiente. É preciso a prática para tornar a investigação em conhecimento. É um caminho que se está a fazer.
O que tem feito e, em termos de futuro, o que projeta fazer para incutir esta mudança na indústria?
Como referi anteriormente, a UN Global Compact Network Portugal, em alinhamento com as restantes redes mundiais da iniciativa, tem levado a cabo um conjunto de programas e iniciativas. Com isso, temos procurado capacitar os profissionais que trabalham estes temas nas empresas participantes.
Atualmente, em concreto no espaço geográfico da União Europeia, assiste-se ao surgimento de um enquadramento legal denso nestas matérias, de que é exemplo a Taxonomia Europeia e a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), que nos parece vir a ser um agente acelerador desta mudança, nomeadamente nas empresas do sector da indústria, mas também nos restantes sectores , pois acredita-se que venha a existir um efeito de arrastamento nas cadeias de valor das grandes empresas. Na União Europeia, em virtude dos compromissos assumidos com o objetivo de assegurar a neutralidade climática da Europa até 2050, há uma evidente reorientação para investimentos de mais longo prazo e em tecnologias e empresas mais sustentáveis. Existe uma preocupação no sector financeiro em que as decisões de investimento sejam realizadas tendo em conta critérios Ambientais, Sociais e de Governação, comumente conhecido com o acrónimo “ESG – Environmental, Social and Governance”. O UN Global Compact, atento a esta realidade, tem agora uma representação permanente em Bruxelas para defender o ponto de vista das empresas e contextualizar a sua intervenção. Ao longo dos últimos anos temos vindo a introduzir o UN Global Compact como standard em índices internacionais como o Dow Jones Sustainability Index, Referenciais da OCDE e da UE, Plataformas de avaliação de fornecedores como o Ecovadis e agora avançámos para esta representação.
E em Portugal…?
Da nossa parte, em Portugal, estaremos atentos ao desenvolvimento desta realidade no espaço europeu, mas também ao framework mundial que é a Agenda 2030 das Nações Unidas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e procuraremos responder às expectativas das empresas portuguesas que devem olhar para este tema como uma oportunidade para inovar e criar valor de forma responsável.