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A partir deste ano letivo, as empresas vão assegurar, integralmente, as propinas aos alunos do curso de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho. A medida insere-se num protocolo estabelecido com a indústria que pretende atrair mais jovens para esta área, dando resposta a uma necessidade sentida pelas empresas dos sectores de moldes e plásticos. Miguel Nóbrega, diretor do curso de Engenharia de Polímeros, manifesta-se otimista em relação ao sucesso da medida.
O curso de Engenharia de Polímeros acaba de celebrar um protocolo com a indústria. Quais os pontos importantes deste protocolo?
Este protocolo é uma iniciativa-piloto e tem aspetos muito interessantes, preconizando uma parceria forte entre o aluno e a empresa, que se vai materializar no facto de o aluno ter, na empresa associada, um tutor, ou seja, alguém que o vai acompanhar, que vai motivá-lo, que vai tentar perceber como é que está a decorrer a formação, que o vai orientar na procura de conhecimento em áreas que são importantes para a empresa, entre outros aspetos. Ou seja, o protocolo vai proporcionar a criação de um contexto de formação muito particular - que não existe em mais nenhum curso no país – e que nos vai permitir ter melhores profissionais: mais bem formados, muito mais orientados para aquilo que são as necessidades da indústria e com vantagens para todos os envolvidos, desde as empresas aos alunos. Este protocolo prevê que no final de cada ano de formação, o aluno passe entre duas semanas a um mês de estágio na empresa à qual está associado.
Reforça a ligação entre a indústria e a academia?
Tem havido uma proximidade grande com a indústria e isso tem sido notório ao longo dos anos. Mas acreditamos que vai consolidar-se com esta recente ação que inauguramos este ano, sobretudo pelo carácter inovador: pela primeira vez, a indústria oferece-se para suportar integralmente as propinas dos alunos na engenharia de polímeros. Esta é a componente mais visível deste recente protocolo de colaboração estabelecido e esperamos que seja também uma chamada de atenção para a sociedade e que as pessoas comecem a questionar-se sobre as razões que levam as empresas a investir, desta forma, na formação dos jovens. E se o faz é porque esta é uma área com futuro, que precisa de mais profissionais. Há outros cursos no país que têm situações semelhantes, mas penso que nenhum deles conseguiu chegar a este nível de ligação com a indústria que é a certeza de que todos os alunos que entrarem no curso vão ter as propinas financiadas pela indústria.
Como é que nasceu o curso de Engenharia de Polímeros?
O curso foi criado em 1978 e, naturalmente, foi sofrendo inúmeras alterações desde então. O curso surgiu como resposta a um desafio da indústria de materiais plásticos que, então, estava a ser confrontada com um novo desafio que se prendia com o surgimento de novos materiais. Lançou um repto às universidades em Portugal para que se criasse um curso que permitisse formar pessoas com conhecimento na área e, na altura, foi a Universidade do Minho que que pegou neste desafio. Havia poucas pessoas com conhecimentos na área e houve, inclusivamente, pessoas que foram doutorar-se fora do país para adquirir o conhecimento necessário. Foi a partir daí que deram origem ao departamento. Desde então, a Universidade do Minho tem vindo a alimentar o curso. Inicialmente, havia apenas a licenciatura, mas foram criados alguns mestrados de especialização. A partir da década de 2000, o curso foi reestruturado e passou a ser um mestrado integrado de cinco anos, conferindo o grau de mestre. Mais recentemente e também por reestruturação dos cursos, este voltou a ser dividido numa licenciatura de três anos e um mestrado de dois anos. A nível de doutoramento, nesta área, temos, por exemplo, Ciência de Energia com Compósitos e, futuramente, prevemos avançar para o Fabrico Digital Direto. Estes estão, de alguma forma, associados a esta área, uma vez que têm uma forte componente nos materiais plásticos.
Qual tem sido a adesão dos alunos a este curso, ao longo do tempo?
Tem havido fases distintas. A adesão já foi maior, mas também já foi menor. Tem vindo a crescer. Mas, a exemplo de outras engenharias, a adesão não é a que desejaríamos, naturalmente.
No caso do vosso curso, a que se deverá essa baixa procura?
Acredito que tenha a ver, essencialmente, com o desconhecimento daquilo que é esta área e da necessidade efetiva destes profissionais por parte das empresas. As pessoas desconhecem esta realidade. Depois, mais recentemente, penso que estamos a assistir a uma reação daquilo que tem sido a forma como a opinião pública, de uma maneira muito genérica, está a tratar a questão dos materiais plásticos. São conhecidos como ‘os vilões ambientais’. E isso está muito relacionado com a perceção que as pessoas têm e que está errada porque os materiais plásticos não vão ser abandonados; vão continuar a ser utilizados. As pessoas acreditam que esta indústria vai deixar de existir, por isso pensam que não vale a pena formarem-se numa área que vai ‘morrer’.
Mas isso não vai acontecer…
Como é óbvio, isto é totalmente errado. Os plásticos são muito mais do que aquilo que é veiculado. A imagem que se transmite tem origem, de uma maneira geral, nas notícias negativas; ou seja, que destacam alguns aspetos negativos dos materiais plásticos. As pessoas criam essa imagem de que vamos passar a viver, daqui a algum tempo, sem materiais plásticos. Mas basta olharem em volta para perceber que isso não é possível e nem é viável. Muito pelo contrário: há vários estudos que demonstram que os materiais plásticos são muito mais amigos do ambiente do que os materiais alternativos.
E como têm procurado alterar essa imagem junto da sociedade?
O departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho tem procurado divulgar e mostrar o trabalho que faz. Temos um impacto significativo naquilo que é a investigação na área dos plásticos, também. Para além disso, e igualmente importante, é a associação que temos com a indústria. Somos um departamento que é um parceiro da indústria, através, por exemplo, do Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros que é uma iniciativa conjunta da universidade com as empresas.
De que forma é concretizada esta associação à comunidade?
Desenvolvemos várias ações anualmente, como dezenas de palestras em escolas ou a receção de alunos e professores do ensino secundário. Nas últimas quatro edições do Dia Aberto fomos, até, obrigados a alargar para dois dias, tentando divulgar aquilo que é a nossa atividade. E procuramos demonstrar que esta é uma área tecnologicamente prática. Para além disto, destaco este recente protocolo estabelecido com a indústria que irá, também, ser um apoio enorme para as famílias dos estudantes, ao permitir reduzir substancialmente os custos. Esperamos que esta medida possa atrair mais alunos, mas também mais empresas, de forma a crescer e ganhar dinâmica nos próximos anos.
Os alunos ficam obrigados, por este protocolo, a permanecer ligados às empresas após o curso?
O protocolo não estipula isso: não há essa obrigatoriedade. Os alunos podem, naturalmente, optar por aquilo que desejem para o seu futuro. Mas acredito que o mais natural é que venha a ser criado um vínculo laboral com a empresa a que o aluno está associado. Gostaria de salientar que, neste ponto, terá um papel fulcral a figura do tutor responsável pela orientação do aluno.
Esse tutor é designado por cada uma das empresas…?
Sim. E as empresas têm a noção da importância desta figura. Este é, até, um fator totalmente diferenciador relativamente àquilo que já alguma vez foi feito, em termos de ensino, e as empresas estão conscientes disto. E por isso estão dispostas a fazer também este investimento – o papel e o tempo que este tutor dedica ao aluno é um investimento acrescido para a empresa. Mas, no final, acreditamos – e as empresas também – que se traduzirá em vantagens.