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Inteligência Artificial

GLN: «A IA é um processo de aprendizagem que nos permite tomar decisões»

05 Junho 2024

“A tecnologia e a Inteligência Artificial não podem ser a razão da existência das empresas, mas antes o seu veículo facilitador para a competitividade, assegurando, dessa forma, o sucesso da indústria”. Assim o defende Rui Ângelo, do grupo GLN, salientando que no seu ponto de vista, a indústria de moldes “está um pouco atrasada” no que diz respeito à integração de soluções de IA.


“Em algumas questões, historicamente, os moldes agiram em modo reativo. Os conceitos de prazo ou competitividade eram menos relevantes e isso fez com que a indústria, em algumas áreas, ficasse um pouco para trás, não se antecipasse, como fez em muitas tecnologias e não acompanhasse a evolução de outras. A IA é um desses exemplos. E aí, a indústria de plásticos tem dado passos bastante mais assertivos”, justifica.


O sector necessita, agora, de aumentar a velocidade nesta questão, até porque, sustenta, “o conceito inteligente é fundamental, pois permite substituir algumas das etapas que são repetitivas”. Só que, não tendo dado passos nessa direção, a indústria depara-se agora com o que poderá ser um problema: “agora, que já começa a haver alguns bons exemplos que podemos aplicar, deparamo-nos com o custo dessa aplicação e a verdade é que nem todas as empresas estão preparadas para assumir esses valores”.


Por outro lado, acrescenta, é preciso mudar um outro aspeto essencial: o mindset. “No fundo, ainda há muitas pessoas da indústria que estão pouco convencidas, acreditando muito pouco que a IA possa ser uma mais-valia”.


De uma forma mais prática, e tendo em conta o andamento do processo que já conhece, Rui Ângelo considera que a IA “não é nada mais, nada menos, do que um processo de aprendizagem”, portanto os sistemas das empresas vão aprendendo com a experiência dos processos no dia a dia. “Ao absorver o que vamos fazendo, as boas práticas e também os erros, os sistemas ‘aprendem’ a fazer bem. O conceito de IA é acelerar essa aprendizagem e trazer-nos alternativas muito mais rapidamente, que nos permitam tomar decisões”, explica, enfatizando que, em última análise, a decisão “está sempre nas mãos do ser humano”.


Foto: Rui Ângelo (GLN)



ESTRATÉGIA

O passo que tem de ser dado, na sua opinião, é “olhar a tecnologia como um veículo facilitador do que fazemos e que, em muitos casos, é visto como ‘uma arte’. É certo que o é, mas temos de olhar a tecnologia como parte da estratégia”, defende.


O passo seguinte é avaliar as condições que cada empresa tem para aplicar as tecnologias com vantagem. “Acredito que as equipas de empresas maiores vão ser capazes de desenvolver-se internamente, ter recursos próprios que consigam servir como integradores do que existe. No entanto, nas empresas de menor dimensão – uma grande parte da nossa indústria - vai ser preciso recorrer a empresas especializadas”, afirma. Até porque, sublinha, num momento seguinte, é necessário integrar os sistemas e processos e otimizar toda esta informação, de forma que alcance o seu propósito: “que nos ajude a acelerar o tempo de resposta para aquilo que necessitamos e a ganhar competitividade”.


A sistematização, defende, está dependente da maturidade da informação. Por isso, acentua a importância de as empresas prestarem atenção especial aos dados que recolhem e ao seu tratamento.


No caso da sua empresa, exemplifica, “estamos um pouco atrás daquilo que eu gostaria”. E concretiza a sua afirmação: “temos de conseguir um equilíbrio muito grande entre o valor que é preciso despender nessa área tecnológica e aquilo que depois é o retorno”. E esse, salienta, “não é tão imediato como nós gostaríamos”. No entanto, não tem dúvidas de que o caminho se faz nessa direção e, por isso, a IA está a ser incrementada em algumas das etapas do processo. “Estamos a testar, para conseguir, acima de tudo, ser mais eficientes”, explica, adiantando que “o nosso conceito é tentar introduzir estas tecnologias passo a passo: não conseguimos utilizá-las em todo o processo, mas estamos a aplicá-las em algumas das etapas”.


Uma das dificuldades, adianta, tem sido conseguir ligar as várias fases do processo, uma vez que, por terem diferentes níveis de maturidade, a sua capacidade tecnológica é também distinta. “Temos tido alguns parceiros a trazer-nos alternativas, mas temos a noção que nem todos os equipamentos estão preparados para a IA”, refere. Defende que a integração destes sistemas com graus diferentes de inovação é um dos maiores desafios. “Se estivéssemos a montar, hoje, a nossa operação desde o início, seria mais fácil porque seguramente que os equipamentos já vêm praticamente com essas ferramentas tecnológicas instaladas”, justifica, enfatizando que, assim não sendo, “esta é uma das barreiras que temos de vencer”.



FUTURO

Rui Ângelo não tem dúvidas de que a IA será uma mais-valia no processo, destacando a sua capacidade de “criar alternativas ao mesmo”. Acredita, contudo, que para ser uma ferramenta eficaz terá de evoluir mais.


E, no futuro, sustenta, poderá ser a resposta a um conjunto de necessidades. “Idealmente, uma das vantagens seria usar a IA para que nos fosse compondo o conceito do molde, de forma a alcançar a 100 % dos objetivos para a peça a que se destina. Ou seja, eliminar o erro”, acentua, considerando que para que tal solução fosse eficaz, o ideal seria que também os clientes das empresas de moldes usassem sistemas de IA. Dessa forma, salienta, “o sistema poderia definir o conceito do molde e o seu processo de fabrico em função de diversas variáveis: performance, durabilidade, prazos de produção, custos ou a finalidade da peça. Com isso, escolheríamos a variável que considerássemos mais adequada às nossas prioridades, mas também às do cliente”.


Isto, no seu entender, “poderá ajudar-nos a fazer parte do processo do cliente, reduzindo drasticamente a dependência das suas vontades”. Exemplifica com o caso da sua empresa para contar que “estamos a tentar criar uma relação de parceria com os nossos principais clientes, de forma a fazer parte da fase de desenvolvimento”. É que, enfatiza, “não conseguiremos sobreviver se mantivermos por muito mais tempo este tipo de relação na qual o cliente define o que quer e nós temos de executar, o mais rápido e barato possível”, sem o esperado valor acrescentado.


Deixa ainda uma advertência: “para alcançarmos esta mudança, as pessoas têm de evoluir, não podem parar no tempo: o mundo hoje é diferente e é fundamental ter capacidade de adaptação e abertura. Os moldes têm de perceber isto e avançar rapidamente”.