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Gestão de Pessoas

Indústria 5.0: integração humana e tecnológica em prol da sustentabilidade

19 Novembro 2024

Texto de Carolina Feliciana Machado e J. Paulo Davim*



A Indústria 5.0 surge como uma evolução natural da Indústria 4.0, indo muito além da automação e conetividade, para enfatizar a colaboração entre Homens e máquinas inteligentes. Enquanto a Indústria 4.0 trouxe a digitalização e a interconetividade através da Internet das Coisas (IoT), Big Data e inteligência artificial (IA), a Indústria 5.0 procura harmonizar a relação entre os trabalhadores e os robôs, promovendo um ambiente de trabalho onde a criatividade humana e a precisão das máquinas se complementam. Tendo presente a relevância que esta problemática assume na atualidade, o presente artigo de opinião procura, de um modo breve, reforçar o papel e a crescente interação que se faz sentir entre as três vertentes de suporte à indústria 5.0, como é o caso das pessoas, tecnologia e sustentabilidade.



O PAPEL DAS PESSOAS NA INDÚSTRIA 5.0

Na Indústria 5.0, as pessoas assumem um papel central, onde a sinergia entre os seres humanos e as máquinas inteligentes é fundamental para o sucesso. As máquinas não substituem os trabalhadores, mas trabalham ao lado deles. A humanização do trabalho assume-se assim como um dos pilares da Indústria 5.0. Diferente da Indústria 4.0, que se focava predominantemente na automação, a Indústria 5.0 valoriza a colaboração entre os trabalhadores e robôs colaborativos, conhecidos como "cobots". Esses cobots são projetados para trabalhar ao lado dos trabalhadores, adaptando-se às suas necessidades e complementando as suas capacidades com precisão e eficiência. A criatividade, o pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas dos seres humanos são potencializadas pela IA e outras tecnologias avançadas, criando um ambiente de trabalho mais inovador e produtivo.


Além disso, a humanização do trabalho é uma prioridade, promovendo ambientes ergonómicos e seguros, que reduzem a fadiga e melhoram o bem-estar e a satisfação dos trabalhadores. A utilização de tecnologias vestíveis (wearables) para monitorizar a saúde e ajustar as condições de trabalho conforme necessário é um exemplo claro de como a Indústria 5.0 coloca as pessoas no centro do processo produtivo, garantindo não apenas a eficiência, mas também a qualidade de vida dos trabalhadores.


O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NA INDÚSTRIA 5.0

Na Indústria 5.0, as tecnologias desempenham um papel crucial ao facilitar a colaboração entre os seres humanos e as máquinas e ao impulsionar a eficiência e a inovação nos processos industriais. A integração de tecnologias avançadas como a inteligência artificial, robótica colaborativa, realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) permite que os robôs não executem apenas tarefas repetitivas, mas também trabalhem em estreita colaboração com os seres humanos, adaptando-se às suas necessidades. A Internet das Coisas (IoT) continua a ser vital, interligando dispositivos e sistemas para recolher e analisar dados em tempo real, o que otimiza a tomada de decisões e melhora a manutenção preditiva. O Big Data, aliado à análise preditiva, possibilita a revisão de falhas e a maximização da eficiência operacional. Além disso, a AR e a VR são utilizadas para formação avançada e simulações precisas, preparando os trabalhadores para situações reais com maior eficácia. Assim, as tecnologias na Indústria 5.0 não só aumentam a produtividade, como também criam um ambiente de trabalho mais seguro, dinâmico e inovador.


SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA 5.0

A sustentabilidade é um pilar fundamental na Indústria 5.0, em que a inovação tecnológica é direcionada para práticas industriais mais ecológicas e responsáveis. A adoção de uma economia circular é central, promovendo a reutilização, reciclagem e redução de resíduos em todos os processos produtivos, minimizando o impacto ambiental. As tecnologias avançadas permitem rastrear materiais e produtos ao longo de seu ciclo de vida, garantindo transparência e responsabilidade ambiental. A eficiência energética é outra prioridade, com a integração de fontes de energia renovável, como a energia solar e a eólica, e o uso de sistemas inteligentes para monitorizar e otimizar o consumo de energia, reduzindo a pegada de carbono das operações industriais. Painéis solares, turbinas eólicas e outras tecnologias renováveis são integradas nas operações industriais para garantirem uma produção mais limpa e sustentável. Além disso, a pesquisa e desenvolvimento de materiais sustentáveis, através da biotecnologia e da nanotecnologia, resultam em produtos mais duradouros, mais eficientes e menos prejudiciais ao meio ambiente, assentes em processos de produção mais ecológicos. Daqui resulta que a Indústria 5.0 não procura apenas avanços tecnológicos, mas também se compromete com a criação de um futuro mais sustentável e equilibrado.



A Indústria 5.0 representa um novo paradigma na produção industrial, onde a tecnologia não apenas complementa, mas também enriquece o papel humano. A colaboração entre os seres humanos e as máquinas, impulsionada por tecnologias avançadas, cria um ambiente de trabalho mais seguro, eficiente e criativo. Ao mesmo tempo, a ênfase na sustentabilidade garante que o progresso industrial não se obtenha às custas do planeta. De todo o exposto resulta que a Indústria 5.0 não consiste, apenas, numa evolução tecnológica, mas, mais do que isso, num compromisso com um futuro mais resiliente, sustentável e humano.



* Carolina Feliciana Machado é Professora Associada com Agregação - Escola de Economia e Gestão Universidade do Minho
J. Paulo Davim é Professor Catedrático - Departamento de Engenharia Mecânica - Universidade de Aveiro


[texto completo na edição de outubro de 2024 da revista Molde]