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Opinião

«Se queremos estar na liga dos campeões, a indústria automóvel é o vetor que nos manterá nesse campeonato»

15 Maio 2025


“Essa é a pergunta para os 10 milhões de euros”.

É com um toque de humor que Luís Febra, da Socem, inicia a sua reflexão quando questionado sobre o futuro da indústria de moldes. Para o responsável, a chave passa por “fazer cada vez melhor o que já fazemos bem”, servindo os clientes com inovação e excelência, apoiando-se na ciência e na profissionalização das organizações. “Devemos deixar de lado o ‘achómetro’ intuitivo gerador de ineficiência e colocar as pessoas no centro dos fatores críticos de sucesso”, defende.



A evolução do sector nos últimos anos tem sido marcada por desafios profundos, desde o aumento abrupto dos custos energéticos à contração da indústria automóvel. “O dia-a-dia do nosso negócio é recheado de desafios”, afirma, lembrando que a Socem já enfrentou momentos difíceis, como a quase falência, em 2008/2009, ou as dores de crescimento em 1997 e 2013/2014. “Nos últimos cinco anos, fomos expostos a cenários e experiências ímpares na nossa história”, frisa, destacando o impacto da crise logística global e da subida dos custos financeiros. “Custos de contexto a elevarem-se sem qualquer previsão, a subida abrupta dos custos de energia, os custos resultantes do caos na logística mundial, os custos das operações financeiras, tudo isso conjugado com uma contração mais acentuada da indústria automóvel, contração essa já visível em 2017/2018, mas que se acentuou imenso nos últimos cinco anos, tudo isso gerou, na nossa empresa, necessidades de ajustamento estrutural que nos desafiaram de forma muito intensa”, pormenoriza.


A transição da indústria automóvel para um novo modelo de mobilidade foi, no seu entender, outro fator determinante. “Qualquer disrupção no mercado tem impactos muito fortes na sua cadeia de valor”, explica, adiantando que “a transição energética nos programas de mobilidade, muito orientada por decisões essencialmente de matriz política, imprimiram necessidades de redesenhar toda uma indústria que, na Europa, representava até 2016, uma produção de cerca de 16 milhões de veículos. Fazer a transição para uma nova fonte energética obrigava a uma reengenharia sem precedentes, tanto nas operações dos construtores como em toda a cadeia de fornecimento”, situação que, defende, “esteve muito longe de ser acautelada e mitigados os riscos, no momento da decisão política”.


Destaca ainda que, em 2024, “fabricaram-se na Europa números abaixo dos 12 milhões de veículos, muito abaixo dos níveis de 2016, o que influenciou toda a cadeia de fornecimento originando um excedente na oferta e, consequente, o seu ajustamento”. Isto impactou diretamente as várias vertentes da produção da sua empresa, acrescenta, exemplificando com “a contração das nossas margens, por um lado, e, por outro, numa necessidade de ajustamento rápido para uma nova abordagem ao mercado, de forma a podermos concentrar a nossa oferta numa lógica de mais serviço e menos produção”.


A diversificação tem sido um tema recorrente no sector, mas Luís Febra acredita que a estratégia mais acertada é aperfeiçoar as competências existentes. “Se queremos estar na liga dos campeões, a indústria automóvel é o vetor que nos manterá nesse campeonato”, sublinha.


A busca por novos mercados, no entanto, é inevitável. “Temos investido a nossa energia em tornarmo-nos melhores sem, contudo, deixar de olhar para outros sectores que nos permitam reduzir a dependência do automóvel”, salienta. Neste contexto, a internacionalização tem sido uma aposta estratégica. “Hoje, o Brasil representa uma fatia considerável dos nossos resultados globais, e a nossa operação no México está em acelerado crescimento”, revela.


Sobre as oportunidades de crescimento para a indústria de moldes, Luís Febra vê um futuro promissor, sustentado pelo consumo global de plástico. “Sectores como o apoio à qualidade no envelhecimento humano, defesa, mobilidade, agricultura tecnológica e robotização da logística continuarão a apresentar oportunidades”, defende. “Não prevejo que, nas próximas décadas, surja um material substituto do plástico que ofereça a mesma facilidade de processamento, reciclabilidade e eficiência energética”, considera.


Quanto à captação de clientes, defende uma abordagem baseada na proximidade e valor acrescentado. “Num contexto de digitalização exponencial, a re-humanização dos negócios trará vantagens competitivas”, sustenta, considerando, ainda, que a falta de investimento em formação técnica nos clientes cria um espaço que as empresas de moldes podem preencher, oferecendo soluções técnicas especializadas.


A indústria de moldes enfrenta desafios complexos, admite Luís Febra, mostrando-se convicto que o caminho passa por reforçar o que as empresas fazem de melhor, aliando conhecimento empírico, inovação e profissionalização. “Se soubermos colocar as pessoas no centro e tomarmos decisões baseadas na ciência e não apenas na intuição, estaremos mais bem preparados para o futuro”, enfatiza.